Xica Manicongo: A Mulher que Redefine a Resistência e o Empoderamento no Brasil
- Ingrid Thauane
- 8 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de mai.
Por: Ingrid Thauane

Você talvez nunca tenha ouvido o nome dela nos livros da escola. Mas Xica Manicongo existiu, resistiu e agora retorna como símbolo potente de liberdade, identidade e luta. Em pleno século 21, seu nome ecoa novamente com força, reacendendo debates sobre quem somos, de onde viemos e como reescrevemos as histórias que nos foram silenciadas por séculos.
Xica Manicongo não é uma personagem inventada. Ela foi a primeira travesti registrada na história do Brasil colonial. Uma mulher negra e trans que viveu em um tempo em que simplesmente existir já era considerado crime. Hoje, mais de 400 anos depois, seu nome ressurge como inspiração para quem se recusa a se calar.
Uma história apagada que agora ganha voz
Xica foi registrada em documentos do século 16 como uma pessoa escravizada em Salvador. Descreveram-na como um "homem com trejeitos femininos", mas essa narrativa era reflexo da visão da época. A verdade é outra. Xica era uma travesti negra que se afirmava como mulher, mesmo sendo perseguida por isso. Sua identidade era motivo de punição, mas também de resistência.
Ela foi obrigada a se vestir e se comportar como um homem. Mas sua essência falou mais alto. E agora, séculos depois, a história reconhece o que a sociedade tentou esconder. Xica Manicongo existiu, e sua existência importa.
Do silêncio à avenida: Xica no Carnaval de 2025
Em 2025, a Paraíso do Tuiuti levou Xica Manicongo para o centro da maior manifestação cultural do país: o Carnaval. Com o enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?", a escola resgatou figuras históricas negras apagadas ou mal contadas pelos livros oficiais — e Xica teve lugar de destaque.
A escola usou o desfile como ferramenta de reparação histórica e de afirmação da diversidade. A figura dela desfilando na Sapucaí foi um marco. Pela primeira vez, muitos brasileiros viram estampada em carros alegóricos e fantasias a força de uma mulher trans preta do Brasil colonial.
A imagem de Xica na avenida foi ovacionada. E o impacto foi imediato. Redes sociais, rodas de conversa, matérias e podcasts discutiram sua história. O que antes era só acessível em artigos acadêmicos virou enredo, música, fantasia e aplauso.

De invisível a símbolo de orgulho
Nos últimos anos, Xica tem sido redescoberta por ativistas, artistas, estudiosos e movimentos sociais. Ela inspira peças de teatro, pesquisas, exposições e ações que reafirmam a presença histórica das travestis e mulheres trans no Brasil.
Mais do que símbolo, ela é memória viva. Representa todas as que vieram antes e todas as que continuam lutando por dignidade, visibilidade e respeito. Seu nome carrega ancestralidade, coragem e transformação.
Por que falar de Xica hoje é tão necessário
O Brasil continua sendo um dos países que mais mata pessoas trans no mundo. Ainda há muito preconceito, violência e exclusão. Por isso, contar a história de Xica não é apenas resgatar o passado. É disputar o presente e reivindicar o futuro.
Falar de Xica é mostrar que mulheres trans e travestis fazem parte da formação do nosso país. Que elas sempre existiram. Que são cultura, são luta e são potência.
Empoderamento de verdade só existe quando inclui todas as mulheres. E Xica Manicongo é prova viva disso. Ela representa a força de quem nunca teve permissão para existir, mas existiu mesmo assim.
Uma nova maneira de ocupar a história
Enquanto muitos ainda tentam nos fazer esquecer, Xica nos ensina a lembrar. A lembrar que ser quem se é já é um ato político. Que ocupar espaços é resistência. Que transformar a dor em coragem é o que move a história.
Xica Manicongo não é passado. Ela é presente. É semente de um Brasil mais justo, mais plural e mais verdadeiro. Ela é coragem. Ela é presença. Ela é recomeço.
Bravo!! 👏🏼👏🏼👏🏼
Que história!! E parabéns a escola e aos integrantes que fizeram essa festa linda!!
Não conhecia a história dela, muito bom aprender!!
Esse enredo da Tuiuti foi muito emocionante!!